Lembro que comprei esse romance da mesma maneira que o livro ''Honra ou Vendetta" do escritor, comentarista, apresentador e gourmet Silvio Lancellotti. Fiquei a priori curioso devido ao título e atento ao trabalho gráfico da capa, em alto relevo. Depois lembrei dos livros que tinha comprado, sem saber nada sobre o escritor, e no final, um livrão, e levei este pra casa também. Mais uma vez fui surpreendido e adorei a forma que o escritor Shahriar Mandanipour desenvolve seu texto.
Num país em que a tradição ainda é muito rígida, em relação ao comportamento e a liberdade das mulheres, onde tudo relativo a arte tem que ser submetido a censura do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, vide os problemas enfrentados pelo cineasta Jafar Panahi, Abbas Kiarostami e pelo próprio Shahriar, achei o tema bem interessante. Para vocês terem uma idéia, nenhum filme Iraniano tem beijo na boca, isso me lembra o Cinema Paradiso, em que as cenas de beijo tinham que ser cortadas por imposição da igreja, isso na década de 40.
O livro retrata exatamente o romance entre uma amante de livros e ativista política, Sara, e um estudante de cinema, Dara, que se apaixonam dentro de uma biblioteca universitária, e iniciam uma estratégia de aproximação por uma comunicação, por códigos, usando seus livros favoritos como ponte.
Desafiando a autoridade e costumes locais eles se encontram em ruas tumultuadas, cibercafés e viçosos jardins particulares de Teerã. O próprio escritor teve um imenso trabalho ao bolar o Romance pois poderia ter sérios problemas com a censura do Irã, fato que o fez abandonar várias cenas e riscar linhas inteiras. Esse também era seu maior desafio, bolar uma linda história sob os olhos do Sr. Petrovich, o todo-poderoso e onisciente censor do Ministério.
O livro é fantástico, o escritor brinca com algumas tradições e tem um jeito irônico de descrever certos costumes e fatos da cultura local.
Shahriar recebeu vários prêmios por seus romances, devido a sua literatura e atividades políticas, Mandanipour sofreu assédio, ameaças, censura e intimidação do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica. Entre 1992 e 1997 ficou proibido de publicar seus livros. Em 2006, se mudou para os Estados Unidos.