Em "Feras de lugar nenhum", Uzodinma Iweala mostra as situações ocorridas na vida do garoto Agu e as barbaridades que os seres humanos são capazes de fazer.
De uma hora para a outra, a vida do menino Agu vira de cabeça para
baixo: a paz da aldeia em que vive com seus pais e sua irmã é rompida
com a chegada de uma milícia liderada por um homem louco e cruel.
Sozinho, afastado de sua família, Agu é obrigado a matar para não morrer
ao ser recrutado como o mais novo soldado do grupo, presenciando os
horrores de um conflito que não compreende. E se tornando parte deles.
Nesse romance lançado em novembro de 2005 nos Estados Unidos e na
Inglaterra e já consagrado pelo público e pela crítica, seres humanos
são reduzidos a seus aspectos mais primitivos, tornando-se "feras" que
promovem a violência e a morte. Ao escolher Agu como narrador da
história, Iweala potencializa os horrores presenciados e promovidos pelo
menino: é sua voz infantil que nos conduz pela guerra e seus horrores; é
ouvindo suas hesitações e pudores de criança que assistimos à sua
transformação de menino-que-quer-ser-engenheiro a menino-monstro. A
inocência de Agu vai sendo encoberta por assassinatos, estupros, saques e
toda sorte de atos criminosos que sofre e que executa. Tornou-se um
soldado e cumpre o seu dever, mas ainda se lembra dos ensinamentos da
mãe e fica confuso: como pode agora matar sem vomitar ou desmaiar como
nas primeiras vezes e continuar temendo a Deus e querendo ser um bom
menino?
Em Feras de Lugar Nenhum, Agu sonha com coisas
muito diferentes: matar os homens que fizeram sua família desaparecer,
carregar uma arma de verdade, ter o que comer amanhã, passar a mão na
bunda da moça que serve bebidas, ser uma árvore gigantesca, fazer o
homem que mora na lua sorrir, encontrar sua mãe, voltar pra escola e se
tornar, enfim, um engenheiro. Nessa mistura de sonhos, surge um novo e
talentoso escritor, que atinge seus leitores não apenas com uma história
difícil de ser esquecida, mas com perguntas ainda mais difíceis de
serem respondidas: somos capazes de perdoar a qualquer um todas as
violências cometidas?
O livro foi lançado aqui no Brasil em 2006, pela Nova Fronteira, com tradução da Christina Baum, 191 pgs.